sábado, outubro 29

O Filósofo agressor…


Boa tarde, comigo está Alberto. Um homem que vive apaixonadamente a filosofia, que colecciona edições dos mais importantes pensadores do nosso mundo. Bem, vejo que traz consigo um exemplar do Discurso de Descartes. Presumo que tenha sido uma obra que o marcou muito.
- Foi, sim senhor. Foi uma obra que me marcou muito, mas marcou ainda mais a minha mulher…
- Ai sim? Ela é uma fã de Descartes?
- Não, ela levou foi mesmo com o livro e como bati com a lombada acabou por ficar com umas nódoas negras.
- Ah… pois, com certeza irritou-se com as teorias de Descartes e descontrolou-se um pouco não foi?
- Não, irritei-me mesmo com ela, porque ainda não tinha feito o jantar e eu de barriga vazia não sou capaz de absorver qualquer pensamento filosófico.
- Pelo que sei também é um fã da filosofia de Schopenhauer, que aponta para algumas vias para a suspensão da dor…
- Sim, embora eu aponte especialmente algumas vias para impor a dor…
- Como assim?
- Se utilizarmos dois dos livros de Schopenhauer atados com uma corda e dar assim nos ossos do nariz de alguém… ui… você nem queira saber a dor que aquilo deve dar…as lágrimas caem dos olhos, fica tudo inchado…e vermelho…
- Mas o que tem isso a ver com a filosofia?
-Então o querer implica uma necessidade e a necessidade, numa visão schopenhaueriana é dor. Eu necessito de lhe dar com dois livros na cara… logo dói! Percebe?
- Será que vejo aí uma nova corrente?
- Onde?
- No seu pensamento?
- Ah, que cabeça a minha, é que ontem perdi uma corrente que costumo usar na minha filha e pensei que era essa que estava a falar…esqueça lá isso.
- O que pensa sobre a questão que Nietzsche coloca: “Você corre à frente? Como pastor ou como excepção? Ou (terceira possibilidade) como fugitivo?”
- Nietzsche… grande senhor… com bons livros… de capas duras… Bem quanto à questão, quem corre geralmente à frente não sou eu… é a minha mulher e eu vou atrás dela com um pastor… alemão, que comprei à polícia… um belo animal habituado a apanhar aqueles fugitivos da prisão do Linhó. Portanto… está esclarecida a questão.
- É impressão minha ou você gosta de fazer mal às mulheres?
- Mulheres? Mas as mulheres não existem!
- Porquê?
- Você já leu algum livro de filosofia que fale de mulheres? Todas as questões são colocadas perante o homem… e não a mulher!
- Pois realmente… bem e qual é então o seu livro favorito?
- Não conheço o autor, mas é um livro grande e amarelo… muito bom… que coloca a questão das pessoas… e com que números e profissões se identificam.
- Parece interessante, mas não estou a conhecer a obra.
- Então não conhece! Ai como se chama… as Páginas Amarelas. Essa sim, uma edição pesada e realmente marcante.

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