sábado, outubro 29

O Filósofo agressor…


Boa tarde, comigo está Alberto. Um homem que vive apaixonadamente a filosofia, que colecciona edições dos mais importantes pensadores do nosso mundo. Bem, vejo que traz consigo um exemplar do Discurso de Descartes. Presumo que tenha sido uma obra que o marcou muito.
- Foi, sim senhor. Foi uma obra que me marcou muito, mas marcou ainda mais a minha mulher…
- Ai sim? Ela é uma fã de Descartes?
- Não, ela levou foi mesmo com o livro e como bati com a lombada acabou por ficar com umas nódoas negras.
- Ah… pois, com certeza irritou-se com as teorias de Descartes e descontrolou-se um pouco não foi?
- Não, irritei-me mesmo com ela, porque ainda não tinha feito o jantar e eu de barriga vazia não sou capaz de absorver qualquer pensamento filosófico.
- Pelo que sei também é um fã da filosofia de Schopenhauer, que aponta para algumas vias para a suspensão da dor…
- Sim, embora eu aponte especialmente algumas vias para impor a dor…
- Como assim?
- Se utilizarmos dois dos livros de Schopenhauer atados com uma corda e dar assim nos ossos do nariz de alguém… ui… você nem queira saber a dor que aquilo deve dar…as lágrimas caem dos olhos, fica tudo inchado…e vermelho…
- Mas o que tem isso a ver com a filosofia?
-Então o querer implica uma necessidade e a necessidade, numa visão schopenhaueriana é dor. Eu necessito de lhe dar com dois livros na cara… logo dói! Percebe?
- Será que vejo aí uma nova corrente?
- Onde?
- No seu pensamento?
- Ah, que cabeça a minha, é que ontem perdi uma corrente que costumo usar na minha filha e pensei que era essa que estava a falar…esqueça lá isso.
- O que pensa sobre a questão que Nietzsche coloca: “Você corre à frente? Como pastor ou como excepção? Ou (terceira possibilidade) como fugitivo?”
- Nietzsche… grande senhor… com bons livros… de capas duras… Bem quanto à questão, quem corre geralmente à frente não sou eu… é a minha mulher e eu vou atrás dela com um pastor… alemão, que comprei à polícia… um belo animal habituado a apanhar aqueles fugitivos da prisão do Linhó. Portanto… está esclarecida a questão.
- É impressão minha ou você gosta de fazer mal às mulheres?
- Mulheres? Mas as mulheres não existem!
- Porquê?
- Você já leu algum livro de filosofia que fale de mulheres? Todas as questões são colocadas perante o homem… e não a mulher!
- Pois realmente… bem e qual é então o seu livro favorito?
- Não conheço o autor, mas é um livro grande e amarelo… muito bom… que coloca a questão das pessoas… e com que números e profissões se identificam.
- Parece interessante, mas não estou a conhecer a obra.
- Então não conhece! Ai como se chama… as Páginas Amarelas. Essa sim, uma edição pesada e realmente marcante.

sexta-feira, outubro 28

O médico pessimista e, sobretudo, com um parafuso a menos


Num consultório como tantos outros apinhado de gente e de velhas que não têm nada…

Alberto- Sô Doutor posso entrar?
Médico- Claro amigo Alberto, entre…
Alberto- Então como está o doutor?
Médico- Já tive melhores dias Alberto, já tive melhores dias. Tenho aqui o resultado dos exames que lhe pedi para fazer.
Alberto- Então tudo normal?
Médico- Alberto, como é que lhe hei-de dizer isto…Diga-me uma coisa…Tem um casamento feliz?
Alberto- Sim, gosto muito da minha mulher e dos meus filhos…
Médico- Hum… complicado. Então e os seus filhos? Ligam muito ao pai?
Alberto- Como assim?
Médico- Se gostam muito de si? Sei lá, se por exemplo o pai morresse de uma doença grave eles iam sentir muito a sua falta?
Alberto- Mas o que é que tenho assim de tão grave?
Médico- Alberto… como é que hei-de dizer isto, Alberto…Alberto…. Ah! Então mas se a sua mulher tiver um caso e se se casar com o amante, o André e o João não devem notar a ausência do pai né?
Alberto- Mas como é que sabe o nome dos meus filhos?
Médico- Olhe mais importante que isso… é o seu problema.
Alberto- Por amor de Deus, diga-me o que é que tenho!
Médico- Tem razão… mais vale ser directo. Olhe Alberto, não é fácil, mas segundo os exames que aqui tenho o Alberto está………. constipado.
Alberto-Hã?! Constipado? E você faz esse barulho todo só por eu estar constipado?
Médico- Oiça lá, mas quem é o médico aqui? Você sabe o que um espirro faz a uma pessoa? Já viu a velocidade a que sai? E a ranhoca? Já vi muita boa gente morrer sufocada durante a noite porque não se consegue assoar! Mas está tudo controlado, não desespere, que já dei encaminhamento ao seu caso e vamos tratá-lo já.
Alberto- Vá passe-me lá o antibiótico…
Médico- Anti..biótico! Ò homem você já não vai lá com isso! Já lhe marquei a consulta de anestesia e a operação é amanhã.
Alberto-Operado!? Mas a quê?
Médico- Pois, quem sofre do seu quadro clínico, e num caso terminal como o seu, geralmente tiramos o coração, o fígado e os rins. E digo-lhe já que a taxa de sobrevivência é muita baixa… Por isso, se eu fosse a si, ia despedir-me dos meus filhos e da mulher.
Alberto- Mas eu tenho nada!!! Sinto nada!!! E não quero ser operado!!! Você é louco!
Médico- Está numa fase de negação Alberto! É normal, tem medo, mas isto é a sua única solução! Por isso, eu já me despedi da sua mulher e dos seus filhos por si. Deixe-me dizer-lhe que tem uma mulher muito simpática e até já me convidou para ir lá jantar para a semana. Quanto a si? Vêm aí dois senhores que vão levá-lo e não vale a pena resistir porque tem mesmo de ser operado antes que a constipação entre na fase da tosse, porque aí já não há mesmo nada a fazer. A pessoa começa a tossir, a tossir, cofff, cofff, cofff, os olhos ficam vermelhos e olhe… dói só de ver!
Alberto- Mas…
Médico- Mas nada! Vá descansado que nós vamos fazer o melhor que sabemos. Não sei porquê, mas eu olho para si e sinto que vai ser a minha primeira operação de sucesso. Hã? Já viu Alberto? Pensamento positivo! Já viu a sorte que tem em ter um médico como eu? Que olha por si e faz tudo para o ajudar? Pensamento positivo Alberto!

terça-feira, outubro 25

Novos tempos, novos brinquedos

Na linha de pensamento da história da Anita, segue outro exemplo, neste caso, de como os brinquedos podem ser adaptados à nova realidade. Fica desde já uma primeira questão: Para quando uma Barbie Prostituta?
Uma boneca com tantos anos e tantas profissões como é que ainda não virou prostituta? Aliás, olho para aquela boneca, para aquela loura espadaúda e digo logo: “esta gaja tem ar de put*!” Isso sim, era uma barbie actual e até já estou a ver o anúncio.
Lembrem-se da música… “Barbie prostituta com as tuas meias de renda mil homens encantarás! Barbie prostituta não apanhas doenças, és baratinha e deixas o cliente vibrar! Barbie prostituta agora na companhia de Ken Chulo, mais um produto da Bordel!”
E pronto, isso sim, seria um produto de nome e acredito que muito homens também iriam comprar a boneca.
Outro brinquedo que bem precisa de uma actualização são os pinipon. Têm um ar demasiado sem sal e, tendo em contas os dias conturbados de hoje, sugiro uma edição de Pinipons BRIGADAS DE ALAXA. Até como são pequenos têm maior facilidade em desaparecer entre a população ou em entrar em autocarros antes de fazerem rebentar as respectivas bombas. Seriam bonecos simples, com um cinto de bombas ou, então, uma mochila. O slogan? Simples e directo. Em vez do habitual: Pinipon…pinipon…pequenitos. Ficava Pinipon… pinipon… explosivos.
E já que a homossexualidade faz hoje parte do nosso dia a dia, sem preconceitos, porque não um herói gay? E, nesse capítulo, parece-me que o He-Man seria o homem ideal. Até porque tinha uma amigo de infância que dizia que quando fosse grande queria ser como o He-Man e hoje é homossexual. Ora, a associação parece-me óbvia até porque um boneco de cabelo louro, que usa uma tanga de pêlo, botas de cano alto… não é preciso dizer muito mais. Claro que, como super herói, o He-Man preferiu não sair do armário, mas para aqueles que têm dúvidas podem sempre ver esta maravilhosa actuação do He-Man (http://www.zipperfish.com/video/august2005/heman-gay.php).
Agora penso que o He-Man pode mudar de nome e fica simplesmente o He-Gay, um herói que dá cabo da inveja entre as bichas e põe fim aos atentados à falta de gosto na moda graças à usa écharpe mágica.

sábado, outubro 22

Post breve, mas que dá que pensar...

Se DEUS é brasileiro, como eles dizem, então já deve ter emigrado para Portugal e está a trabalhar num restaurante de fast food do Freeport de Alcochete...

Métodos de Paulo Bento

Paulo Bento é o novo treinador do Sporting. O antigo técnico dos juniores já está a trabalhar em Alcochete e vai aplicar alguns dos métodos que o levaram à conquista do título de juniores com os jovens leõezinhos.
Sendo assim, para já, Paulo Bento promoveu um simpático almoço partilhado entre a equipa técnica, jogadores e respectivos pais no McDonald’s. Todos tiveram direito ao seu Happy Meal, embora Beto tenha armado uma zaragata com o Custódio por querer também o seu brinquedo. Depois seguiu-se um jogo da cabra cega, mas Manuela Moura Guedes não quis ser vendada portanto Paulo Bento decidiu-se por um jogo da apanhada. O dia terminou com o técnico a contar uma bela história para adormecer e aconchegando todos os seus jogadores nas respectivas camas.
Mas Paulo Bento já disse que não vai tolerar qualquer acto de indisciplina. Birras constantes como as de Beto ou Ricardo não terão lugar. Em caso de desrespeito das regras, o novo treinador vai colocar o jogador em castigo e chamará o respectivo encarregado de educação para uma breve conversa. O jogador será ainda aconselhado a meditar sobre as suas acções e Paulo Bento reservou ainda o direito de poder dar umas belas palmadas das nádegas dos seus atletas caso se justifique.
As faltas aos treinos terão também que ser justificadas pelos encarregados de educação.
O onze inicial terá como base as notas dos jogadores na escola, mas como o roupeiro Paulinho é o único estudante na equipa, Paulo Bento está com sérias dificuldades em saber quem jogará de início, mas já tem um método alternativo. Quem conseguir dizer a tabuada dos três sem enganos tem um lugar garantido, para facilitar, e porque estamos numa era moderna, o técnico autorizou o uso de calculadora.
Os prémios de jogo deixarão de ser pagos com chorudas quantias monetárias e, em vez disso, toda a equipa será gratificada com uma fantástica ida ao cinema para verem o último êxito da Disney.

sexta-feira, outubro 21

Novos tempos, novas Anitas


Estava no outro dia a remexer nuns livros antigos de criança, também conhecidos como "literatura de mesinha de cabeceira para o Bibi", e dei de caras com os livros da Anita. “Anita no bosque”, “Anita na festa de anos”, “Anita e o Pardalito”, “Anita Descobre a Música”… e por aí. Ora, isto parece-me tudo completamente desactualizado. São histórias que já não fazem qualquer sentido tendo em conta a realidade depressiva portuguesa. Portanto, sugiro novos temas. Acho que, em vez de “Anita no bosque”, faz muito mais sentido um “Anita em Monsanto”. O tema da natureza mantém-se, mas é muito mais real e o enredo, na verdade, não muda assim tanto. A miúda vai para o bosque e diverte-se na mesma com os animais e ainda ganha uns cobres porque a vida está difícil. Na mesma linha de acção, em vez de “Anita na Universidade” sugiro uma “Anita no Técnico”, a miúda cresce, deixa o Monsanto e passa a “leccionar” num instituto de renome na área da prostituição.
Mas há mais! “Anita Descobre a Música”…mas o que é isto? Ninguém liga à música hoje em dia, quanto muito “Anita Descobre a Droga”! E, mais uma vez, muito pouco a mudar. Anita vai na rua, alguém lhe oferece uma pastilha de ecstasy e, tal como numa lição de música, começa a ouvir lindas melodias de vários instrumentos.
“Anita na festa de anos”?! Não. Não pode ser! Ah, mas as pessoas continuam a ir a festas de anos, dizem vocês. É verdade, mas nenhuma festa de anos de miúdas é hoje uma festa de anos normal, por isso sugiro…“Anita na festa de anos, que rapidamente se transforma numa orgia”. Isso sim, é real e actual! A miúda vai à festa de anos, começa a distribuir as pastilhas de ecstasy que lhe tinham dado no livro anterior e, rapidamente, dá início a uma orgia entre miúdas que se excitam enquanto vêem um episódio da Heidi. Sim, porque toda a gente sabe que a Heidi só vivia nos Alpes com o avô para poderem fazer filmes caseiros, com ovelhas e tudo, sem que ninguém os chateasse.
Por fim, tenho uma outra sugestão. “Anita e o Pardalito” nunca poderia ser um livro actual, agora “Anita e a gripe das aves”, isso sim! Há história, há enredo, há o drama de uma miúda que escapa, por pouco, a uma pandemia depois de ter tido uma noite escaldante num aviário com um rapaz do campo.
E as piadas podiam continuar, mas isto é como o momento actual do Sporting. A parvoíce é tanta que já nem dá vontade de rir… hum… mentira… dá sim senhor!

quarta-feira, outubro 19

O técnico descontraído

No flash interview após um encontro desolador…

Boa noite, comigo está o técnico dos Unidos do Samouco, como é que se sente depois desta derrota por 11-0?
- Para ser sincero… sinto, como é que hei-de dizer, assim o rabiosque um bocado dorido porque ali os nossos bancos de suplentes ainda são daquela madeira antiga e saem umas farpas e…
-Não é isso, como é que sente em relação à derrota?
-Qual derrota? Ah a do jogo, desculpe lá estava aqui a pensar num filme que vi ontem à noite assim com umas suecas. Bom argumento! Mas em relação ao jogo não há problema! O moral da equipa está bom e foi apenas um percalço! Não volta a acontecer! Isso é garantido!
- Mas esta foi a 10.ª derrota consecutiva…
- Foi, mas foi tudo uma questão de azar! Temos tido azar, o futebol é isto mesmo. Umas vezes ganha-se, outras perde-se. No nosso caso… é mais perder…
- Quanto é que sentiu que este jogo estava perdido?
- Ora isso foi, mais ou menos, aos 88, 89 minutos em que eu disse aos meus rapazes: “pronto… agora é que não há volta a dar” e até disse aos homens que tinha em aquecimento que podiam vir para o banco.
- Mas já tinha feito as três substituições nessa altura…
- Sim, mas isto do futebol está sempre em evolução e a gente não sabe quando é que as regras vão mudar não é? Mas é como lhe digo… isto vai mudar e para semana vamos jogar para ganhar. É certinho!
- Para a semana não há campeonato, joga a selecção…
- Connosco? Ah joga a selecção, pois está bem... E a que horas? Dá em que canal?
- Mas quanto ao seu futuro, não teme uma chicotada psicológica?
- Não temo até porque quem gosta dessas coisas das chicotadas é a minha mulher e eu para levar chicotadas só se for mesmo a sério, porque não tenho muito tempo a perder…ok?
-Muito obrigado até uma próxima oportunidade…
- Olhe isto passa a que horas na tv para pedir à minha mulher para gravar?

sexta-feira, outubro 14

Mourinho Parte II- The Devil inside

Numa mansão qualquer em Londres, após um jogo qualquer onde ganhou a mesma equipa de sempre…

Trim, trim, trim…(Isto é o telefone a tocar)
- Yes?
- Boa noite, queria falar com o Zé se faz favor.
- Quem fala?
- Daqui é Belzebu.
- Ai Meu Deus!
- Não, esse trabalha no andar de cima e tem barbas brancas. Daqui é o outro, o Diabo!
- Ah, porque é que não disse logo, não estava a conhecer a voz! Daqui é a mulher do Zé! Só um pouco que vou já chamá-lo…Ò Zé anda ao telefone… é o Didi! Xau, Didi, prazer em ouvir-te…
- Estou Didi, é o Zé! Então tudo bem contigo? O que é que tens feito?
- Ora o costume… umas cheias aqui, uns massacres ali, umas autárquicas em Portugal… estou a tentar manter a reputação!
- Didi, sabes que hoje ganhei mais um jogo? Já são vinte sem perder e todos ganhos com penalties e auto-golos. Sabes o que eu acho? Isto realmente há coisas do Diabo! Ah… ah… ah…
- Ah… ah… ah, boa piada pá e houve ainda quem me dissesse que me iria aborrecer de ti e do nosso acordo! Olha é a propósito disso que estou a ligar.
- Então?
- Estou a precisar que me emprestes a tua alma por uns dias…
- Outra vez? Para quê?
- É pá… há um Senhor da Guerra que planeia um massacre na Birmânia e preciso de alguém bom tacticamente, percebes? Alguém que saiba atacar os pontos vitais e defender na hora certa…
- Porque é que não pedes ao Peseiro?
- Ai sim? Se bem te lembras quando o Bush invadiu o Iraque teve a ajuda da alma desse gajo e olha a confusão que deu! Ataques desenfreados e uma salganhada tal que ainda hoje anda tudo às aranhas! Para além disso, acho que o Peseiro, neste momento, precisa mais da alma dele do que eu!
- Hum… então e isso é para quando?
- Estava a pensar ir aí buscá-la amanhã…
- Mas quando me tiras a alma não consigo dizer coisas inteligentes! Como é que vou fazer?
- Ficas fechado em casa ou então dou-te o corpo do Carrilho, que assim ninguém desconfia!
- Hum, vou pensar no teu caso… Olha não queres cá vir jantar amanhã? Os miúdos estão fartos de perguntar por aquela senhora que fazia truques com as bolas de fogo! Ah, a propósito disso, quando vieres por favor não incorpores na Lili Caneças. É que os miúdos ficaram assustados, mais parecia que tinham visto… o Diabo!!! Ah… ah… ah…, esta também tá gira. Não a sério, prefiro que venhas ao natural porque elas são crianças ainda muito sensíveis.
- Ok tudo bem. Olha e não voltas a Portugal Zé?
- Where? I do not know where Portugal is!
- Ah… ah… ah…Ai Zé… Zé! O que é que eu hei-de fazer contigo? Se não me ponho a pau qualquer dia ainda me ficas com o lugar!
- Ah, nada disso, a ambição é algo que não faz parte da minha vida.

terça-feira, outubro 11

Um porco feliz…

Há uma questão que me têm inquietado profundamente nos últimos dias e, desde que penso nisso, nem sou capaz de retomar a minha vida normal de desempregado…Então aqui vai.

Porque é que as carrinhas de distribuição de carnes, para talhos e afins, têm sempre a cara de um porco muito feliz, de uma vaca jovial ou de uma galinha de sorriso rasgado?
É impressão minha ou os animais que vão lá dentro já vão feitos em carne picada ou em belos nacos, pelo que não têm razões nenhumas para sorrirem? Ora, isto só pode ser uma questão de puro sadismo dos talhantes, um modo de alegrarem o seu dia já que enquanto transformam uma vaca num belo bife da vazia vão soltando umas gargalhadas porque já sabem que minutos depois o dito bife vai para a carrinha com o sorriso do animal estampado. E isso, toda a gente sabe, é das coisas que mais diverte um cortador de carne.
Ora, mas cá para mim a verdadeira razão para que estejam lá estampados os animais sorridentes é bem mais obscura e elaborada. A mim ninguém me engana e aquilo é tudo para enganar os animais antes de irem para o matadouro. Ah, e tal, não te preocupes que nós não fazemos mal a ninguém.
Isto é, os porcos não são burros e os burros não são mulas, embora haja umas mulas, bem boas, mas que, no entanto são umas vacas…Bom, mas o que queria dizer mesmo é que os porcos, galinhas e afins sabem umas coisas e se vissem na rua uma carrinha com o desenho de uma cabeça de porco ensanguentada com um cutelo na jugular isso deixava-os apreensivos. Agora assim não…Vamos a um suponhamos de diálogo entre dois porcos…
- Olha lá? O que é feito do Alberto?
- Acho que o vieram buscar e levaram-no para aquele sitio… como é que se chama…o matadouro!
- O matadouro? O que é isso?
- Não sei, mas deve ser um sítio agradável. De vez em quando passa aqui uma carrinha que diz Matadouro Alegria no Talho, que até tem assim um desenho de um porco a sorrir, portanto deve ser um local fixe, estou ansioso pela minha vez!
- Mas olha lá, ouvi dizer que é aí que nos transformam em salsichas!
- Mas tu estás estúpido ou quê? Andas mas é chafurdar demasiado na pocilga que os gases já te subiram à cabeça.
- Então para que é que o levaram?
- Sei lá, mas acho que as pessoas têm os porcos como animais de estimação.
- Então e as salsichas são feitas de quê?
- Santa ignorância! Toda a gente sabe que são feitas de cão e gato!
- Olha, olha vem aí uma carrinha! O que é que lá diz?
- Espera… Aviário do Alberto e olha traz uma galinha toda contente na imagem!!
- Ah…ah…ah…realmente que estupidez, como é que uma galinha pode andar tão contente se passa o dia a cagar ovos!!!
- Pois é, deve ser para ver se as enganam. Ai ai, isto há com cada uma!

domingo, outubro 9

Viva Angola, viva o Akwá...e viva...àqueles gajos que quase perdiam com o Liechtenstein

Angola está pela primeira vez num campeonato do mundo e deixou os 13 milhões de angolanos em delírio completo. Três milhões em Angola, cinco milhões na Damaia e outros cinco na Buraca. Aliás, os angolanos mais optimistas já pensam num Portugal-Angola na final do Mundial, mas por amor de Deus.... não me parece que cheguem as duas ao momento decisivo! Quer dizer, de um lado temos uma selecção cheia de raça, de heróis, de verdadeiros craques na arte da finta e do outro temos... Portugal.

sábado, outubro 8

Mourinho Trade Mark


Parem as máquinas! Parem tudo o que estão a fazer, porque desde que José Castelo Branco anunciou que iria sair da 1.ª Companhia feito um homem que não havia uma notícia tão ridícula. José Mourinho resolveu tornar o seu nome numa marca registada. Isto é, quem quiser usar o nome de Mourinho tem de pedir autorização ao mister e/ou pagar uma pipa de massa- quase tanto como o valor da conta de Isaltino Morais na Suíça. Aliás, ao que parece, José Mourinho já falou directamente com Deus pedindo expressamente para que o terceiro mandamento passasse para “NÃO INVOCARÁS O NOME DE MOURINHO EM VÃO”.
O técnico português já terá mesmo instaurado os primeiros processos de indemnização. Os visados foram a mulher e os pais que teimam em chamá-lo pelo apelido e não como O Eleito, Mestre, The Special One ou Luz que Ilumina os relvados e guia os predestinados.
À parte da polémica, é já sabido que José Mourinho vai lançar vários produtos com o seu nome entre os quais destacam-se:

- Vaselina Mourinho- “F**** os outros fica muito mais fácil”

- Dicionário Mourinho/Inglês/Português- As Palavras do Campeão, um dicionário editado pelo próprio com as expressões que o levaram ao título e as respectivas traduções, tais como:
- “You want to win? I want to win, so break his legs” (O fair play está acima de tudo)
- “How much do you want for this player? 50 Millions? No problem, that are changes to me, Roman pay!” (O dinheiro não é tudo numa equipa)
- “Bad, bad mary, you are here you are there, I’m the Special One so just mark the penalty mister referee” (Ò senhor árbitro pareceu-me grande penalidade, mas você é que sabe, afinal sou apenas um técnico).
- “Don’t pray to God, pray to me because I’m the one that choose the players”, ( Com esforço e dedicação todos têm um lugar na equipa).

-José Mourinho vai ainda lançar um livro intitulado “Conversas com Jesus”, onde Jesus Cristo entra em contacto com Mourinho, e não o contrário, para pedir-lhe conselhos sobre os mistérios da vida e os segredos para o sucesso. Uma obra recheada de espiritualidade com um prefácio inédito escrito pelo Espírito Santo e onde Jesus aproveita ainda a oportunidade para dizer, de uma vez por todas, que nunca falou com uma tal de Alexandra Solnado.

- Já está também em produção as giletes Mourinho Look-a-like, que deixam sempre a cara com aspecto de uma barba de três dias, por mais vezes que se utilize. Uma promoção que traz ainda o aftershave “Smells Like Victory”, uma loção poderosa que nos faz sentir na pele de Mourinho por segundos e testemunhar a sensação de esmagar o adversário com um auto-golo.

- Na área dos jogos de mesa, está em fase de conclusão o Mourinopoly. Um jogo onde o objectivo passa por comprar todos os jogadores disponíveis marcando reuniões secretas ou roubando atletas às outras equipas. Ganha quem conseguir gastar mais dinheiro.

- Ao que parece, está também para sair para as bancas o próximo companheiro da Barbie, o chamado Ken Mourinho. Um super-herói de sobretudo que tem como principal arma um bloco de notas com poderes especiais e que tira todo o poder ofensivo e táctico ao adversário. O Ken Mourinho também diz frases como” I’m The Special One”, “2-0, I won, I’m the best” ou “I’m my biggest fan”. Mas segundo as últimas notícias, o boneco já rejeitou a companhia da Barbie considerando-a demasiado fútil e pouco digna para chegar aos seus calcanhares.

Neste momento, recebi um e-mail de José Mourinho a dizer que terei de pagar cerca de cinco mil libras por cada vez que escrevi José Mourinho neste post.

sexta-feira, outubro 7

A morte da vida

Como um livro de Stephen King, um filme de David Lynch ou um contacto mediúnico com Alan Kardec eis que a história que se segue é um momento verdadeiramente esquizofrénico. Sejam bem vindos… à 6.ª Dimensão.

E se o natural fosse a morte… e vida… fosse o fim de tudo? Passo a explicar… e se morrer fosse estar vivo e estar vivo fosse estar morto (por favor não confundir com “estar vivo é o contrário de estar morto”). Vamos então a um suponhamos de diálogo onde se realiza o funeral de Alberto…

Amélia -“Almerinda, então quem ressuscitou?”
Almerinda-“ Olhe amiga, foi o Alberto coitadinho…”
Amélia- “Então mas como é que isso aconteceu?”
Almerinda- “Não sei, olhe é a morte o que é que se vai fazer! Ainda ontem estava deitado no caixão, assim rijinho, teso que nem um carapau, como é costume, e quando dei por ele estava vivo, a sorrir e a correr de um lado para o outro. Já não consegui fazer nada! Como o povo diz, encolheu o pernil, foi desta para pior…
Amélia- Realmente, ainda a semana passada o vi. Estava assim roxo, com boa cara e hoje está ali tão rosadinho e a andar de um lado para o outro. São coisas que não dão para entender!
Almerinda- Sabe também quem ressuscitou a semana passada? O Almeida!
Amélia- Ah, coitadinho, mas ele já era novito, já se estava há espera…
Almerinda- É verdade… a saúde dele estava a melhorar de dia para dia era também apenas uma questão de tempo.

E pronto… achei que era importante contar esta história. Acho que os cogumelos que comi não estavam muito bons, mas agora que me sinto mais melhor e que deixei de ver as lindas luzes coloridas vou deitar-me e rezar para que o escaravelho gigante já não esteja debaixo da minha cama a jogar às cartas com aquele duende verde que saiu do jardim da minha vizinha.

Vale Tudo

Ouvi dizer que vai realizar-se no Pavilhão Atlântico um torneio de Vale Tudo. Ou seja mini campeonato de socos e pontapés onde, como o próprio nome indica, vale tudo... até arrancar olhos. No fundo, é uma espécie de campanha para as eleições autárquicas, mas menos violento!

quarta-feira, outubro 5

Hooligans da Sueca

Numa mesa de um típico jardim público lisboeta…

Muito boa tarde, comigo estão dois senhores muito especiais. O senhor Almeida e o senhor Antunes, os dois primeiros conhecidos hooligans dedicados à sueca.
Jornalista- Boa tarde! Como é que se meteram nesta vida do hooliganismo?
Almeida- Ui! Isso já vem de muito longe! Desde os tempos em que éramos crianças e os nosso amigos se punham a jogar ao Peixinho e nós aparecíamos e dizíamos logo “Mas o que é isto? Mas temos meninos ò quê?” e pronto e vandalizávamos as cartas e punhamos umas de baixo para cima, trocávamos os baralhos e por aí!
Jornalista- Então, mas o que é que vocês fazem propriamente?
Antunes- Fazemos tudo!
Almeida- Fazemos tudo… e mais alguma coisa!
Jornalista- Mas apoiam alguma equipa?
Antunes- Então nós apoiamos a malta do centro de dia aqui do bairro.
Almeida- Temos cânticos e tudo para destabilizar os adversários quando vêm jogar aqui ao jardim.
Almeida e Antunes- “Joguem a manilha, palhaços joguem a manilha, jooooguem a manilha, palhaços joguem a manilha”, ou então aquele outro do “vais levar com o trunfo oh…oh…oh.. oh… vais levar com o trunfo oh….oh…oh…oh” e por aí fora.
Almeida- Isto é à fartazana é até os adversários acusarem a pressão.
Jornalista- A pressão?
Almeida- Sim! A pressão arterial! Sobe, sobe, sobe, começam a ficar assim para o roxos
Antunes- Aquela cor tipo azul petróleo…
Almeida- E pronto tá o caldo entornado!
Antunes- Mas isto há mais cânticos, o problema é que não podemos gritar muito alto por causa da bexiga… isto com o esforço sempre cai uma pinguita ou outra e depois lá vêm as nossas senhoras dizer que já não temos idade para estas coisas…
Almeida- Nós até já chegámos a combinar assim uma rixa com a malta do Centro de Dia de Almofariz, mas acho que coincidiu com a aula de tapetes de arraiolos e depois só apareceu um. Quem foi? Lembras-te?
Antunes- Acho que foi o Chico ou foi Inácio, aquele coxo?
Almeida- Ah foi o Inácio sim. Bom rapaz! Tem um problema na vesícula e uma placa de platina na coluna.
Antunes- Pois é, coitado, a mulher tá em coma desde a semana passada… mas arreámos-lhe bem! Atão mas o que é isto? Isto da Sueca não é para meninos.
Jornalista- Então vocês são responsáveis por todos os desacatos aqui em torno da mesa da sueca?
Antunes- Todos não! Isso também é uma grande injustiça e dizem que nós é que fazemos o mal todo. Há muita gente que se põe aqui a assistir e é bem mais perigosa!
Almeida- Ui se é! Põem-se a dizer “olha que ele não assistiu. Olha que ele tem um trunfo na manga!” e pronto é o suficiente para a tarde acabar por ali…
Jornalista- Mas começam cenas violentíssimas de agressões?
Almeida- Não. Acaba por ali porque geralmente são horas de jantar.

terça-feira, outubro 4

Graças a Jesus


No flash interview…

Boa noite junto a mim tenho o homem do jogo. Jurandir como foi marcar aquele golo e dar a vitória à sua equipa?
- Olha foi graças a Jesus, né?
- Sim, mas como foi o golo?
- É como lhe disse! Foi graças a Jesus e ao Pai do céu, Senhor seja louvado, e à Virgem Maria?
- Pois está bem, mas foi o Jurandir que marcou o golo…
- Qué qué isso? Tá me estranhando? Não fui eu não cara! Quer tirar o louvor ao Senhor? Foi Jesus, foi graças a Jesus!
- Mas está a brincar comigo? Eu vi o Wesnalton passar pelo defesa, no lado esquerdo, centrar a bola, o guarda-redes não chegou e o Jurandir cabeceou para o fundo da baliza…
-Viu tudo errado…não foi nada disso cara!
- A Virgem Maria pegou na bola lá do lado esquerdo e passou pelo defesa. Sabe? É que ela, com aquele véu branco comprido e com aquela saia que ela usa, o adversário nem consegue ver o drible e depois a auréola também encadeia um pouco né? Mas, como dizia, ela tirou o defesa do caminho, centrou e na área estava lá estava Jesus. Como ele já subiu aos céus, quando reencarnou, tem muita facilidade no jogo aéreo e conseguiu marcar. É como lhe disse, foi graças a Jesus, não fui eu não!
- Mas você tá tontinho! Agora vem com essas conversas de Jesus e da Virgem. Jesus Cristo era conhecido como o Salvador…
- E como o goleador! Ou pensa que o facto de ele andar sempre com onze atrás dele é tudo coincidência? Ele era o craque lá na Galileia. Todo o mundo conhece a equipa. Pedro na baliza, André, Tiago Maior (filho de Zebedeu), João e Filipe na defesa; Bartolomeu e Tomé a trincos; Mateus e Tiago Menor a nas alas com Tadeu e Jesus na frente. Simão Cananeu era o massagista, apesar de na maior parte das vezes ser Jesus que efectuava o milagre da cura, sempre saía mais rápido.
- Então e Judas? Os apóstolos eram 12, não onze!
- Judas saiu da equipa por processo disciplinar, porque acha que ele traiu Jesus mais tarde?
- Depois desta palhaçada toda que diz vai agora dizer-me também que o facto de ter vindo jogar para Portugal também foi obra de Deus?
- Não, claro que não! O meu empresário também teve algo a ver com isso né?
- Ah, vá lá! Quem é o seu empresário?
- É o Santo, não conhece não? Tem muito jogador aqui em Portugal.
-Quem?
- O Santo! O Espírito Santo. Quer dizer ele botou Jesus na barriga de Maria sem ela transar e acha que não me conseguia colocar numa equipa aqui? Ah, deixa de frescura!

segunda-feira, outubro 3

Grávidas à força

Com tanta informação que há na rua, nas revistas, na televisão e nos Morangos com Açúcar, alguém me explica como é que as miúdas de 16 anos continuam a engravidar logo à primeira? Tipo hole in one, como no golf.
Ora, tenho umas quantas teorias quanto a esse assunto. A primeira e, mais óbvia, é que todas elas caem na conversa dos namorados, os seus mais que tudo, e que inventam a desculpa mais esfarrapada para levar a deles avante… e bem fundo. Qualquer coisa do tipo…
“Amorzinho se tu estiveres a comer uma pastilha de mentol, vais ver que não engravidas porque o fresco do eucalipto corta o efeito”, ou então” baby, se enquanto estivermos a fazer o amor cantares o hino da alegria podes ter a certeza que não engravidas” e por aí adiante…
Depois engravidam e acredito que muitas delas ainda ficam a pensar: “Bem me parecia que a pastilha era de morango!” ou “porque é que cantei aquela do Toy em vez da outra!!” and so on…
Por outro lado, as gravidezes na adolescência dão-se em larga escala nos bairros sociais e isto pode levar a uma outra questão mais sociológica onde a gravidez é vista como um acto de aceitação no grupo.
Ou seja, aos 16 anos, no máximo 17, a miúda já tem que ser mãe, ou estar de barriga cheia ou então habilita-se a ser vista de lado pelos vizinhos e família
“Já vistes a Cátia Micaela? Fez agora 18 anos e ainda não é mãe! Nem sequer fez o abortozito? Que vergonha, uma miúda de tão boas famílias!”
E depois é ver essas desgraçadas na televisão, com imagem e voz distorcida: “Eu era uma miúda normal, mas não quis engravidar e agora nem trabalho consigo arranjar.”
Aliás, quem passa os vinte anos sem ter filhos das duas uma: ou é estéril ou então é lésbica. E, nesses casos, o melhor que tem a fazer é mudar de casa antes de ser posta na rua pelos pais porque a filha mais nova está grávida do terceiro e dá jeito mais um quarto!”

sábado, outubro 1

Os dias de Alberto


O relógio marca as cinco da manhã, aliás como acontece em outros dias, seja que horas forem.
“Nunca mais compro relógios com fontes luminosas no Palácio do Oriente Chinês”, pensa Alberto, estendido nos lençóis, enquanto abre os olhos ainda pegados pela espessa ramela amarela.
Afinal, são cinco da manhã, dois minutos e trinta segundos. Alberto consegue guiar-se com precisão pelo sol graças ao seu treino militar na 1.ª Companhia.
“Por onde andas tu Castelo Branco? Nunca mais fui o mesmo desde o dia em que trocaste todo o pelotão pelo Cabo Fernandes. Tu que eras o único capaz de enfiar uma rolha na boca da Romana”, matuta. Os pensamentos sucedem-se a ritmo um esquizofrénico, quase tão alucinante como as inaugurações em tempo de autárquicas.
Autárquicas traz à memória a palavra “governo”, e isso é algo de que Alberto nem quer ouvir falar. Ainda se lembra bem de como o abandonaram, de como tinha sido apagado do mapa. Alberto tinha perdido o bilhete de identidade, no entanto, para ele, o gajo aciganado que lhe tinha roubado a carteira no 50, a caminho de Algés, estava com o… GOVERNO.
Agora não há tempo para essas coisas. É preciso preparar mais um dia de luta contra o crime. Alberto finalmente levanta-se, abre a persiana e então apercebe-se que afinal não se guiou pelo sol, mas talvez pela luz do candeeiro.
“Paciência, também só entro à tarde”, diz. É preciso vestir a farda. Lá está ela pendurada na cadeira, à espera que Alberto a incorpore, qual Linda Reis.
Já a veste há anos e parece cada vez mais justa. Alberto está cinco quilos mais gordo. Recentemente até aderiu à moda das dietas anunciadas na televisão. Já experimentou três ou quatro, mas cada vez que se lembra da alegria de Valentina Torres há um pensamento que ping-pongueia entre os seus ressacados neurónios: “Alberto, vê a alegria da Vivi e ela tem mais 100 quilos do que tu. Ainda não é o momento para te entregares a esses vícios propagandeados”.
Então Alberto inspira profundamente, aperta a barriga e veste as calças. Está na hora de tomar o pequeno-almoço. Prepara um reforço suplementar de Cerelac, enquanto faz um zapping fervoroso na Tv da cozinha.
“Dzzzzzzt…Sic…Sic…Sic dez horas..dzzzzzzzt…Picolé traz a avó de hoje dzzzzt….oh si cariño, me gusta…oh sí te quiero dientro de mí Ramon. Ah mama mi poya, ahhhhhh…”, os espasmos nos dedos e a romena com sotaque espanhol, não o deixam mudar de canal, mas Alberto lá arranja forças e segue mais um dígito:”dzzzzzzzt… três lojas de brinquedos foram assaltadas no espaço de cinco dias…”
“Se fosse no meu horário de trabalho e na minha zona estavam bem tramados esses larápios, malandros. Isto cada vez está pior, é a crise”, dispara Alberto, entre uma e outra colherada de Celerac. Mas nada corre bem, a papa ficou grossa demais. Aliás, como fica ele todas as sextas feiras à noite quando bebe para esquecer as desgraças. A vida é madrasta com Alberto. A profissão dá-lhe cabo do resto da sanidade mental que a Júlia Pinheiro não levou durante as galas das expulsões. Alberto vive sobre a corda bamba, num perigo constante. Tem de estar sempre atento, de auricular no ouvido e olhos de lince, porque dele depende a segurança de milhares de inocentes. Cidadãos comuns, que passam por ele e desconhecem os perigos que se escondem por trás de uma porta, ou não fosse Alberto o segurança da entrada sul do Shopping lá da terra.

O Aborto...

Hoje quando vinha na "camineta" a caminho do Samouco ouvi uma notícia em que José Socrates preferia não pronunciar-se sobre a questão do aborto. Eu também acho que José Peseiro merece uma segunda oportunidade.

Aliás, o técnico do Sporting afirmou que quando achar que está a prejudicar o Sporting abandona a equipa. Está claro que se há uns que pensam que podem sempre melhorar existem outros que acreditam que ainda podem fazer muito pior.